sexta-feira, 3 maio, 2024
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Plant-for-the-Planet forma mais de 340 jovens como Embaixadores da Justiça Climática em Alta Floresta

“E se no futuro não tiver nenhuma árvore?” pergunta de forma retórica Átila Gabriel da Silva, um jovem de 12 anos, depois de plantar mais de dez árvores com as próprias mãos. Seu colega de sala da mesma idade, Maicon Brito, emenda o raciocínio do amigo ao lado. “O que vai ser de nós, né?”, diz.

Os dois jovens transformaram a preocupação em ação e estão entre os 340 novos Embaixadores da Justiça Climática do município de Alta Floresta formados pela Plant-for-the-Planet em parceria com o Instituto Centro de Vida (ICV), Fundação Konrad Adenauer (KAS) e apoio da Prefeitura Municipal de Alta Floresta. A ação aconteceu entre os dias 16 e 23 de novembro.

A formação foi finalizada com o plantio de mais de 800 mudas de árvores nativas e frutíferas em quatro nascentes do município localizado na Amazônia mato-grossense, em região conhecida como “arco do desmatamento”.

Aos questionamentos dos jovens, estudos científicos levados à COP-26, a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, respondem: sem ações significativas e generalizadas contra a crise climática, atingiremos um ponto de não retorno onde os desastres socioambientais serão cada ano mais graves.

“É um consenso a crise climática, mas ao mesmo tempo tem sido cada vez mais claro o papel de diferentes ações espalhadas ao longo do planeta e especialmente na Amazônia brasileira”, avalia Vinicius Silgueiro, coordenador do núcleo de Inteligência Territorial do ICV.

“Em última análise, a capacidade de regenerar um ecossistema degradado está diretamente associada ao fortalecimento dos vínculos econômicos, sociais e ambientais no processo de ocupação do território. Por isso é tão necessária a defesa e educação ambiental no âmbito local,” destaca Ana Carolina Abreu, coordenadora de projetos da Fundação Konrad Adenauer Brasil.

Quando ouve ou vê na televisão as notícias sobre a Amazônia, bioma onde mora, Raíssa da Silva Souza, aluna do 1º ano da Escola Jaime Veríssimo de Campos, sente um misto de emoções. “Fico meio triste, meio brava e também com um pouquinho de medo”, desabafa.

Ela e os novos embaixadores participaram de exercícios, brincadeiras e oficinas de projetos que integram as chamadas ‘Academias’.

É a segunda edição da Plant-for-the-Planet no município de Alta Floresta. Em 2020, foram formados 192 embaixadores da justiça climática de duas escolas, com o plantio de 400 árvores.

Neste ano, foram 343 jovens de seis escolas, o que consolidou a edição como a maior dentre todas implementadas pela organização no país.

Apesar das preocupações, existe um cuidado para que os jovens não se sintam ansiosos e com o sentimento de falta de perspectiva.

“As atividades da Plant-for-the-Planet formam um jeito da gente explicar o que é a crise climática, ao mesmo tempo que indicamos soluções que as crianças possam se envolver para que se evite que eles sofrem do que chamamos de eco ansiedade ou ansiedade climática”, comenta Luciano Frontelle, diretor executivo da Plant-for-the-Planet no Brasil.

Ainda assim, não deixam de prover informações confiáveis para motivar as tomadas de ações.

A desigualdade socioeconômica entre os países foi o que mais chamou atenção e chocou a estudante do 5º ano, Maria Clara Muniz. “Eu sabia que existia diferença, mas não que era tanto como vimos no mapa”, comentou.

“Todas as escolas deveriam ter palestras como essa.”

Em uma das atividades da academia, os estudantes são convidados a posicionar objetos em cima de um mapa para representar as regiões mais pobres, mais populosas, e, ao mesmo tempo, mais vulneráveis aos efeitos da crise climática, como inundações e secas intensas.

Com a atividade, é possível compreender a falta de justiça climática em nível global.

Depois de apresentação de dados, fenômenos climáticos e a história da fundação, os jovens formaram grupos para debater e construir um projeto de cunho socioambiental.

Nas seis escolas atendidas, os temas variados enfrentavam problemas de impacto global com ações locais.

Foram criados projetos com cronograma, prazos e metas que envolviam o plantio de árvores, coleta seletiva do lixo e a reativação da horta na escola.

Soluções criativas também foram exploradas pelos jovens. Em um projeto, um grupo visava a proteção à fauna silvestre com a criação de uma página de educação ambiental por aplicativos como TikTok.

As propostas e dinâmicas são inspiradas na história de Felix Finkbeiner, fundador da Plant-for-the-Planet e que, com apenas nove anos à época, convocou as crianças a plantarem um milhão de árvores em cada país do mundo.

Ele próprio, motivado ao saber da iniciativa de plantio de árvores da queniana Wangari Maathai. A ação o levou aos holofotes da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em um discurso histórico.

O estudante do 6º ano da Escola Estadual Dom Bosco, Cleverson Luis de Oliveira, é esperançoso com o futuro e se sentiu aliviado ao saber da história do jovem alemão.

“Eu não sabia que existia a Plant, sabia que existia a ONU, mas isso não. Foi uma coisa nova. Eu tenho esperança que esse pequeno fazer, esse pequeno movimento pode no futuro transformar a Terra inteira”, diz.

Para a facilitadora da iniciativa, Laíz Bruna da Silva, mestranda da área de Engenharia Florestal na Unemat, os jovens demonstram conhecimento e preparação para a realização de projetos de impacto. “Eles veem que existe um problema e que é possível contribuir para combatê-lo”, comenta.

Da mesma idade de Félix, a acadêmica de Ciências Biológicas da Unemat e facilitadora da iniciativa, Júlia Gabriele Figueiredo uniu seu propósito ao dele. “Tomamos caminhos diferentes, mas com a mesma luta”, comenta.

Para ela, o aprendizado durante as oficinas é uma via de mão dupla.

“Nós estamos sendo formados também e aprendendo a lidar com a realidade deles, que é diferente da nossa geração. E aprendendo com os projetos que eles desenvolvem”, comenta.

Thereza Felderber, acadêmica de Ciências Biológicas da Unemat, afirma que a preocupação é visível nas crianças, inclusive com as ações dos próprios pais. “Elas estão dispostas a fazer para ter um futuro melhor”, comenta.

Em Alta Floresta, muitos dos pais das crianças trabalharam ou trabalham em atividades que geram degradação ambiental.

ALTA FLORESTA: DAS LISTAS DE DESMATAMENTO AO EXEMPLO

É estratégica a ação da iniciativa no município que dominou manchetes pelos altos índices de desmatamento, de acordo com Luciano.

“Estamos falando com crianças que são filhos de pecuaristas, agricultores, consumidores. São pessoas que vão poder voltar para casa e propor uma conversa, vai vir de um lugar de afeto”, comenta o diretor executivo da fundação.

Em um dos plantios, um jovem assumia a responsabilidade da família.

“Meu pai mesmo já desmatou muito, agora vamos plantar”, disse enquanto posicionava a muda no buraco próximo a uma nascente cuja vegetação, na última seca, foi alvo de incêndio criminoso.

O diretor de desenvolvimento sustentável da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Alta Floresta, José Alesando, afirma que a população busca alternativas ao caminho da degradação ambiental histórica no município que levou o seu nome até a lista de municípios mais desmatadores da Amazônia.

“É um caminho de conciliação entre o viés da produção e da conservação e o município de Alta Floresta tem demonstrado que é possível”, diz.

As nascentes onde ocorreram os plantios integram o programa Adote Uma Nascente, implementado por lei municipal e que prevê a recuperação e conservação das áreas de preservação permanentes (APPs) no município com foco na área urbana.

Para Weslei Butturi, analista do Núcleo de Inteligência Territorial e um dos organizadores da iniciativa, o caminho ainda é longo. “Os nossos pais desmataram e a gente está plantando agora. O desafio é enorme: o passivo ambiental ainda é muito grande no nosso município, mas uma hora precisa começar”, comenta.

Vinícius ressalta que Alta Floresta é um município em expansão e a iniciativa preza pelo cuidado com os arredores ao envolver as crianças moradoras dos bairros das nascentes onde foram plantadas as mudas. “

“Cria essa aproximação e cuidado dessas áreas, que são essenciais para a cidade”, comenta.

Não apenas como ação local com impacto global de recuperação da floresta amazônica, mas também colabora na manutenção do microclima e da disponibilidade das águas para os moradores.

“E, além disso, introduzindo espécies nativas e frutíferas que podem servir como alimento”, comenta.

Paulo Vitor Siqueira, estudante do 5º ano da Escola 19 de Maio plantou dois ipês e uma goiabeira perto de uma nascente. “Eu vou procurar vir todo dia pra vir molhar ela”, promete.

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